A Mansão
O céu estava limpo. Apenas a Lua cheia se vislumbrava, emitindo a sua habitual luz resplandecente. Era Outono, o primeiro dia do mês, mais propriamente um Sábado prestes a terminar. As folhas rodopiavam no ar gélido da noite e caiam no chão para depois serem calcadas ruidosamente pelas pessoas que passavam. E assim, as árvores se despiam lentamente sem quaisquer preconceitos, para depois de uns longos meses terrivelmente frios e sombrios se voltarem a cobrir com mantos verdes e sedosos.
A minha casa era grande, com mobiliário extremamente antigo importado de Paris à cerca de oito anos atrás. O sofá da sala, encontrava-se ocupado pela minha pessoa. Tentava a todo o custo decifrar as letras minúsculas daquele caderno que tinha encontrado no sótão e ao mesmo tempo perceber a quem pertencia... A minha avó materna tinha morrido à 10 anos. Uma morte dolorosa, capaz de acreditar. E juntamente com ela embarcaram três outros seres que conhecia como sendo a minha mãe, o meu pai e o meu avô. Durante longos anos prestei luto e todos os dias visitava a campa dos meus parentes. Falava com eles, porque sabia que estavam vivos dentro de mim; contava-lhes novidades e entregava-lhes ramos de flores meticulosamente arranjados por uma florista da zona. Tinha bastante medo, mas aceitava-o como sendo normal naquela fase perturbadora e infeliz da minha vida. Porém, mais tarde, percebi que o meu medo não se resumia à solidão que passei a aceitar após o acidente que tinha ocurrido. Dia sim, dia não, ouvia ruídos estranhos quer no exterior da minha casa, quer no interior. Aquela mansão vitoriana (detestava chamar-lhe isso) nunca apresentou nada de normal, mas estes ruídos puseram-me de tal modo com medo que refugiei-me durante dias e dias no meu quarto. Este, fora o quarto dos meus avós (a casa também era deles até ficar por minha conta após a tragédia), e acreditava que não era a melhor solução esconder-me ali. No entanto, se abrisse a porta e descesse o longo escadario até ao hall de entrada, acreditava que seriam os últimos minutos de vida que podia eventualmente disfrutar. Até podia ser ridículo pensar assim, mas nada mais me ocurria senão esperar até me sentir suficientemente seguro para abandonar o quarto.
No dia seguinte, acordei com a certeza de que não podia continuar ali, sem comer ou beber, sem dialogar com alguém ou pedir ajuda aos meus familiares (que embora não respondessem, eu tinha a certeza que me ajudariam). Saí da cama e calcei-me. Depois abri as cortinas e apreciei o sol que me feriu os olhos e me obrigou a fechar as pálpebras. Já não estava habituado a uma luz tão intensa como aquela. Respirei fundo e contei até três.
-Um... dois... três!
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